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GIKOVATE: O AMOR QUE SE VAI

Amar-é-Puuung-1O psicoterapeuta e escritor Flávio Gikovate define o amor como: “um sentimento por alguém muito específico, que provoca a sensação de paz, de aconchego e harmonia”. Psicologicamente, o amor reflete a primeira experiência do ser humano: o prazer absoluto de estar no útero materno. Por isso, Gikovate diz que “o Amor é um remédio para o desamparo do nascimento”. Para ser amor é preciso que o sentimento seja, necessariamente, interpessoal (verbo transitivo) e, também, seja um prazer negativo, no sentido que ele vem substituir a perda do primeiro prazer (quando saímos do útero perfeito e temos contato com o mundo imperfeito).

Assim, Gikovate – contrariando o senso comum romântico – afirma que “não se faz amor, se sente amor”. Completamente diferente do sexo, que segundo o autor, o fenômeno da sexualidade funciona de forma pessoal (prazer autoerótico), é uma excitação e não depende de desconforto.

Fato é que amor adulto, tem muitas características infantis. O outro entra no lugar da mãe, substituindo o objeto de prazer que irá receber todo o investimento de amor.

No século V a.C., Platão afirmava que o Amor deriva de Admiração. A escolha desse objeto que vai substituir a mãe será feita, então, por admiração. Essa é a explicação para a formação dos casais. A questão é que o critério de admiração pode se modificar com o passar do tempo.

Essa, a admiração, é uma das variáveis que pode levar o fenômeno amoroso ao colapso da relação. Quanto mais baixaamar-é-ilustrações-puuung-34 for a autoestima, maior a procura pela admiração ao perfil oposto, justificando a máxima “os opostos se atraem”. O tempo e a aproximação podem provocar a perda, ou mesmo o crescimento, da admiração. É um processo constante de reavaliação da admiração ao outro. Isso depende das escolhas e das mudanças que ocorrem individualmente e, que afetam diretamente o relacionamento. Em outras palavras, quando se perde admiração, perde-se o amor. Logo, o maior problema é a perda da admiração.

O sentimento amoroso vai se desencantar pelas mesmas razões que o fez encantar. O fim do amor não é, imediatamente,  o fim do relacionamento. Muitas pessoas ficam juntas mesmo depois que a vida emocional está empobrecida. Viver junto, não significa viver bem. Há os que continuam com um objetivo de forçar a mudança do outro, em vez de usar essa força para mudar a si mesmo. “Por exemplo: em vez de eu forçar o outro a deixar de ser egoísta, eu devo trabalhar em mim para deixar de ser generoso. Assim, ou a pessoa sai da relação em busca de alguém generoso, ou ela aprender a ser generosa. Toda a energia deveria ser gasta em si mesmo e não em reformar o outro. É um esforço inútil”.

Para Gikovate a parte mais generosa da relação é quem ativa a ruptura. Isso porque a parte mais egoísta, ainda que em um possível sofrimento, não suporta ceder. Assim, espera-se uma hora oportuna para a separação.

amar-é-ilustrações-puuung-35As pessoas esperam separar sem ter que passar pelo buraco da solidão. A maior parte das pessoas lida muito mal com a solidão e, principalmente, com a dramática sensação de dor no momento da separação. Uma dor confundida, pois essa primeira não é a dor da solidão, é a dor aguda da ruptura. Da transição.

Se o relacionamento está desgastado, o outro não está preenchendo bem as expectativas, de maneira que já há a sensação de incompletude presente. Quando há uma ruptura é preciso fazer uma autocrítica e entender onde e como foram as falhas e as mudanças. Aprender a lidar melhor consigo mesmo.

O individualismo é uma coisa ótima e positiva, pois está ajudando as pessoas a dar menos ênfase ao amor infantil, de dependência. O individualismo atrai relações entre pessoas mais parecidas criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que dá um viés mais sofisticado para a relação. O “Mais Amor” (termo cunhado por Gikovate como uma evolução das relações afetivas) é o que se aproxima da amizade, ou seja, a relação entre duas pessoas é baseada nas afinidades, respeitando a individualidade de cada um, tomando as duas partes como iguais e equilibradas em tudo.

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Fonte: Texto baseado na palestra O AMOR QUE SE VAI, de Flávio Gikovate, realizada pelo CPFL Cultura, 2009. (contém alterações deste autor/blog).

Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JtDmoS7VAvY

Ilustrações: Puuung

ALERTA | Banalização da Psicopatia nos Seriados

hannibal-série-trailer-2-600x350Dizem que “a arte imita a vida”. Sempre que eu ouço essa frase fico pensando quem Tarsila imitou quando pintou o Abapuru ?! E se isso realmente for verdade, esse post é muito mais sério que um alerta.

Recentemente estou assustado com alguns seriados que estrearam em 2013. Seriado pra mim é como novela para minha tia-avó: quase uma religião. A diferença é que posso “seguir” vários ao mesmo tempo o.O

Mas percebi uma avalanche de seriados que em comum abordam psicopatias, psicopatologias, psicoses e outros tantos transtornos mentais que assustam até mesmo um estudante de psicologia acostumado com roteiros complexos.

Estou falando de THE FOLLOWING (Fox), BATES MOTEL (A&E) e HANNIBAL (AXN). Além do mocinho e bandido e da investigação policial, essas séries colocam foco na “saúde mental” dos personagens – ou na falta dela – e expõem sem filtros uma realidade presente até então em manicômios e diagnósticos sigilosos.

poe_followingThe Following, já com estréia no Brasil pela Warner, narra a uma seita criada em torno da obra de Edgard Allan Poe (muito suspeito!), congrega dezenas de psicopatas atraídos pela “Beleza da Morte”. Nisso, matar e morrer (veja que não é um “ou”) é cumprir um bem maior. Curioso e que o roteiro mostra uma realidade muito concreta, onde os desajustados se reúnem por suas semelhanças e se encaixam em um contexto onde são aceitos. Os episódios são recheados de sangue, frieza e perspicácia.

Em seguida foi lançada Bates Motel, um prelúdio da série Hitchcock. O roteiro foca no desenvolvimento da psicose do protagonista Norman Bates e detalha o início das alucinações, esquizofrenia, assassinatos que vão transformar um jovens de 17 anos em um psicótico (baseado no livro que originou o filme Psicose). A série ainda evidencia um relacionamento edípico entre mãe e filho. Além de outras neuroses.

Por último, temos a recente adaptação da “quadrilogia” Hannibal do cinema para a TV. Crítica à parte, vez que o Lecter de Anthony Hopkins é insuperável. A espinha dorsal do seriado mantém o canibalismo do psiquiatra, destacando sua forma de entrar na mente das pessoas, cheio de más intenções é claro. Em contra partida, todos os crimes tem um fundo psicótico, com requintes de psicopatologia pesada!

Diante dessas três séries, Dexter que volta no segundo semestre para a última temporada, perde a hegemonia do contexto Serial xlargeKillers. Embora também seja uma psicopata, Morgan ainda segue uma série de códigos que o convertem em um “herói” com ressalvas.

O alerta fica mesmo nos possíveis efeitos (nocivos) da exposição desmedida, excessiva e sem censuras de todos os vieses da psicopatia, livremente para todas as pessoas, de diferentes idades e, principalmente, diferentes estruturas de personalidades. Não podemos nivelar a absorção desse conteúdo da mesma forma entre todos os telespectadores. Algumas correntes psicológicas consideram o Meio (ambiente) como grande influenciador de comportamento. Se somarmos isso a outras correntes que acreditam na “pré-disposição” para desenvolvimento de psicopatias e esquizofrenia. Então temos uma equação perigosa para a saúde mental.

Esse discurso pode ficar ainda mais palpável quando lembramos de alguns casos como Massacre de Columbine, Virginia Tech e os fãs de Duke Nuken e Batman que metralharam dezenas de pessoas, confundindo realidade com a ficção..

Voltando à frase inicial desse texto. Caso a vida também esteja imitando a arte, teremos um ciclo vicioso e preocupante. Não quero exorcizar os seriados, mas registrar um olhar crítico e uma visão do todo.

Confira os traillers

THE FOLLOWING

BATES MOTEL

HANNIBAL

Seriados que abordam Psicologia e Comportamento Humano

Os seriados são as minhas novelas. Acompanho dezenas ao mesmo tempo e quando gosto, sou fiel! Luto e sofro com as personagens como minha avó faz nas novelas.

Nesse post eu reuni os seriados que assisto/assisti que tenham em comum uma abordagem em comportamento humano. Algo que estudantes de psicologia, assim como eu, poderão assistir com uma visão crítica e até didática, sem perder a graça e a emoção da teledramaturgia.

Quando falo em seriados que abordam comportamento humano e psicologia, não estou falando de Psych ou The Mentalist, estou falando de SitCom, ou seja, situações reais do nosso cotidiano. Dois seriados que eu não listei, mas que de forma empírica produzem uma reflexão sobre psicologia comportamental são Modern Family e Shameless (Fica a Dica).

No mais, a listagem abaixo seria minha videoteca de pesquisa em psicologia no setor de seriados. Esperam que gostem, e também contribuam com dicas e sugestões!

In Treatment

Um psicanalista, cinco casos, uma sessão por noite. Baseado em uma série de sucesso da TV israelense. Paul Weston (Gabriel Byrne), é o  psicanalista cujo consultório fica dentro da própria casa, ou seja, o seriado aborda o humanismo do profissional e,  que além  do fato de “lidar” com problemas dos outros, ainda – como todo ser humano – conta com os próprios problemas. Essa linha tênue é muito bem abordada pelo diretor Rodrigo Garcia (ninguém menos que o filho do escritor Gabriel Garcia Márquez).

Outro ponto diferencial é que de segunda à quinta o psicanalista atende um paciente diferente, ou seja, não há solução no final do episódio, mas como “voyeur” nós acompanhamos cada caso como se fossem reais. E na sexta-feira, é a vez do psicanalista fazer terapia com sua mentora Gina (Diane Wiest). O roteiro é tenso, adulto, as vezes monótono. Sim, é chato, mas muito interessante pelo ponto de vista humano da figura do psicanalista.

Lie To Me

Pra quem curte comunicação não-verbal é o seriado perfeito! E, de brinde ainda conta com uma atuação fantástica de Tim Roth na pele do Dr. Cal Lightman como um “identificador de mentira, através de micro expressões faciais”. Os roteiros são excleentes, as abordagens também e cada episódio é uma aula sobre como  nosso corpo pode nos entregar e desmentir o que falamos!  Esse seriado eu acompanhei até o último episódio. Curtindo cada conflito, detalhe, enfim! Saudades!

O seriado é todo baseado em pesquisas em psicologia comportamental e comunicação corporal e circundado com uma trama muito irônica, já que o especialista é louco! Simples assim.  O Seriado ajuda a entender também causas e consequências de ações individuais e coletivas sob um outro ponto de vista.

 

Dexter

Meu favorito! O que ele tem a ver com Psicologia? Além de um entendimento de psicopatia, alterego, estrutura de personalidade, transtornos mil…. entre outros conceitos… É cuidadosamente pensado e roteirizado para ser uma ficção, porém, fala diretamente  com o telespectador. Afinal, quem simpatizaria com um serial killer?  Michael C. Hall (Dexter) que também dirige a série, já provou que gosta de abordar personagens densos e complexos, como já o fez em Six Feet Under. Outro seriado excelente sobre conflito familiar, que ainda contava com um casal de psiquiatras. Dexter fala dos limites do ser humano, como ele mesmo diz:  “As pessoas fingem muitas das interações humanas, mas me sinto fingindo todas… E as finjo muito bem!”

“Posso matar um homem, desmembrar seu corpo,e chegar em casa a tempo para ver o Letterman…Mas não sei o que dizer quando minha namorada está se sentindo insegura.” “Se eu tivesse um coração, ele estaria partido agora.”

Web Teraphy

Que tal substituir o modelo tradicional de terapia, Pareamento de 45 minutos, por um encontro via Skype de 3 minutos???? Essa é a proposta da terapeuta Fiona Wallice (Lisa Kudrow) propõe para seus pacientes.

Para a terapeuta, em 50 minutos os pacientes falam coisas desnecessárias…. por isso os encontros foram encurtados, já a tecnologia é uma releitura da pós-modernidade sobre os conceitos da psicologia. Porém Fiona não é boa ouvinte, interrompendo constantemente as sessões com julgamentos, citações de experiências pessoais desnecessárias, e tentativas de promoção do método por parte dos pacientes. Muito do humor da série gira em torno de seus óbvios interesses pessoais nas sessões. Enquanto a primeira temporada aborda sua falta de profissionalismo e seus interesses particulares, a segunda temporada foca no seu relacionamento com o marido.

Também não acompanhei toda a temporada, mas alguns episódios ajudam a refletir sobre a atuação do psicólogo.

 

BRASIL!!!!

Pelas bandas tupiniquins também destacam-se algumas produções da teledramaturgia com foco na psicologia e comportamento.

Adorável Psicose

É a minha favorita. Exibida pelo canal pago Multishow, porém com todos os episódios disponíveis no YouTube,  já vai para a terceira temporada (abril/2012). Protagonizado por Natalia Klein (que também é a roteirista, função que já fez em Zorra Total), a série aborda conflitos existenciais  e suas adjacências, sempre com muito bom humor.  Não percam!

“Descobri que sou psicótica! – Quem disse? – O Google.”

 

Afinal o que querem as mulheres?

Baseado em textos de Freud, a Rede Globo fez um seriado especial cheio de tecnologia e linguagem de cinema com um roteiro belíssimo. Tudo bem que a dramaturgia sobrepõem os conceitos freudianos, mas ficou muito legal, diferente e criativo. Vale a Pena!

André Newman é escritor e está terminando sua tese de doutorado em Psicologia, que pretende responder a pergunta freudiana “Afinal, o que querem as mulheres?”. Com senso de humor muito próprio, o psicólogo mistura a pesquisa à sua própria vida. Sua dedicação ao estudo é tanta, que ele acaba se afastando e sendo abandonado por seu grande amor.

No YouTube

Psycho Girlfriend

São temporadas curtas feitas especialmente para o Youtube – acho que ainda somente em inglês (sem legenda) – mas o conteúdo é perfeito e a atuação do casal é hilária. Um convite a reflexão do relacionamento a dois, cheio de situações do cotidiano. E questiona: até que ponto o ser humano pode chegar??!  Psicólogos encontram em Psycho Girlfriend um fonte complexa enquanto muitas pessoas apenas riem com as loucuras de uma namorada que “ama demais”. A psicologia já relaciona que achamos graças de situações que remetem a nós mesmos.

 

A profissão que mais cresce no mundo!

Uma das profissões que mais cresce no mundo é a psicologia. E o que tem favorecido muito isso é o fato que as amizades estão se extinguindo. As pessoas tem que pagar um profissional para ouvi-las, para compartilhar problemas, angustias e pensamentos. Porque os “amigos” não querem mais ouvir os outros, cada um administra os próprios problemas (o que já é complicado imagine cuidar do problema alheio. Na dúvida tem sido melhor nem ouvi-lo!). Nesse caso a filosofia do “cada um no seu quadrado” tem destruído pontes e construído paredes entre os seres humanos.

A amizade está em extinção. Não o rótulo que aproxima pessoas com interesses em comum, nem o substantivo feminino usado para identificar os membros de uma tribo cosmopolita. Mas o conceito de amizade, definido gentilmente pro Houaiss como um sentimento de grande afeição, de simpatia. Interessante é que a palavra AMIZADE, deriva do Latim, amicus , que possivelmente derivou de amore  = amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego é uma relação afetiva, a princípio sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas.  (nota-se que o conceito está acima de padrões sexuais e genéricos)

Na prática amizade, então, seria uma namoro sem sexo? Acho que Aristóteles tem uma definição melhor, para ele , “Amizade é uma só mente dividida em dois corpos, e uma só alma dividida entre duas pessoas.” Acho que é por isso que a bíblia afirma que “quem fez uma amigo encontrou um tesouro”.

A amizade pode ter como origem, um instinto de sobrevivência da espécie, com a necessidade de proteger e ser protegido por outros seres. Faz parte do “ser” humano a amizade! E a falta dela talvez mostre que não temos sido assim tão humanos.

Nesse mundo tão confuso e caleidoscópico, o simples virou complicado. A simplicidade da amizade absoluta chega ser difícil de compreender, talvez porque tem sido difícil vive-la. Afinal, como se compreender aquilo que não se sente?  O medo, os preconceitos, os padrões modernos e as bolhas culturais contribuem para o distanciamento do afeto pueril, sincero e  imaculado.

Talvez seja a hora de não apenas olhar em volta, nos relacionamento que temos cultivado, mas também olhar para dentro. Dentro de nós mesmos e entender a que padrões temos classificados nossos sentimentos!

P.S: Para esse post eu faço uma homenagem a Benetton que semrpe defendeu a UNITED COLORS, mesmo que para isso fosse preciso confrontar todos os preconceitos culturais. O vídeo abaixo acompanha uma música linda na voz de Cindy Lauper – True Colors.