Diário

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Inquieto. Ele virava o pescoço para os lados, procurando encontrar de onde vinha aquela voz que chamava seu nome. Ele sabia de quem era a voz que o vento trazia a seus ouvidos e tentava localizar com a cabeça como se pudesse levá-lo até o emissor. Era uma busca incessante, torcia o pescoço para os lados, virava para trás…. mas não conseguia identificar de onde ecoava aquela voz, porém sabia que seu nome estava sendo chamado. Foi então que olhou para dentro, baixou a cabeça próxima do coração e encontrou a origem. A voz que ele reconhecera e que chamava pelo seu nome vinha de dentro. De lá emanava, como uma gravação, a lembrança da última vez que seu nome foi chamado. Era tão real, tão presente, tão vivo…. como se seu nome continuasse sendo chamado. Aquele timbre doce, com a pronuncia que só aquela voz conseguia fazer ainda circulava pela sua memória auditiva. E, por isso, estava ali, bem perto, porque estava dentro. Era a parte do que tinha ficado.

Então ele suspirava bem fundo, para acomodar toda a intensidade que o preenchia. Mas escapava um sorriso de canto de boca. Meio tímido, puxava junto os olhos formando aqueles vincos de quando se tenta fechá-los. Ele não conseguia controlar os músculos faciais, como espasmos, aquele sorriso bobo tinha vontade própria. Então ele se lembrava… Lembrava de cheiros, de imagens, de sensações. Revivia histórias e momentos como se alguém tivesse acabado de lhe contar. Cada lembrança fazia cócegas no cérebro explicando o porquê daquele sorriso ora inocente, ora intensional.

Ele queria compartilhar coisas bobas, como dizer que parou de roer as unhas e o orgulho que sentia por isso. Suas mãos estavam mais bonitas. Mas não tinha para quem exibi-las. Queria mostrar as músicas que ele recém descobrira, porque sabia o quanto gostava de música, então cantar o refrão deixando que a letra falasse por ele, com intuito de talvez, uma de suas músicas pudesse entrar na playlist como se algo de si fizesse parte. Queria contar o quanto mudou, e para melhor, e que sentia um orgulho imenso pela pessoa que havia se tornado.

Então ele acabou fazendo tudo o eu queria. Quando fechou os olhos e imaginou. Quando abriu e deixou fluir em palavras escritas. Ele fez. E se sentia feliz por ter feito.

Sobre Renato Lima

Jornalista, psicólogo, mochileiro e observador de comportamento.

Publicado em 12/11/2017, em Sem categoria. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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