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Fantasia

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Ele calcava os pés nos chão para passar despercebido entre os demais. Mas sabia que sua mente e seu coração flutuavam. Era como se sua cabeça fosse um balão de gás, suspenso no mundo da fantasia.

E quando ninguém estava olhando, ele discretamente deslocava o calcanhar e sonhava acordado. Vislumbrava momentos que não aconteceram. Pessoas que não estavam lá.

Mas eram reais.

Tão reais que suas fantasias lhe roubavam sorrisos e provocaram suspiros compulsivamente. Convencido de que seria surpreendido pelas próprias fantasias alimentava o quanto podia o desejo de ser reencontrado.

….

Então, voltava a tocar o solo. A realidade não tinha todas as cores, nem lhe fazia borbulhar a barriga. Não havia ninguém lá. Nem esperança, nem surpresa.

Ninguém o estaria esperando na porta, nem iria cruzar-lhe o caminho subitamente. Mas ele ousava contrariar a realidade e, com todas as forças, suspendia-se do chão novamente. O alívio momentâneo daquela verdade que ainda não tinha acontecido era suficiente para lhe acalmar o coração.

Naquele lugar, as cores, o brilho e a música davam conta dos desejos mais belos e puros. Lá, não havia assento para culpas e nem culpados. Mesmo assim, a gravidade insistia em lhe puxa para baixo.

Outra vez olhava e não via ninguém. Encontrava o vazio e isso era desesperador…..

….

Lembrou-se de quando estava à beira do abismo. Aquele empurrão dado, era o da liberdade, mas não havia reverberado o efeito esperado. Era para ser um impulso da salvação! Aquele que faz brotar asas, que ensina a voar, que desperta o instinto de sobrevivência quando se vê à beira da morte.

Então ele ficou esperando….

Esperando que do vácuo ressurgisse rompendo a gravidade, envolvido no vigor da liberdade, na própria força interior.  Baixou os olhos para seus pés, via as pontas dos dedos tocando a extremidade do penhasco. Olhava para baixo, esperando algum movimento, algum vento balançar seus cabelos.

E, nada.

O nada era o solo que agarrava seus pés drenando suas fantasias tão pueris. Por isso ele preferia o ar. No ar é onde as coisas fazem mais sentido, não precisa de raiz quem pode voar.

Era tão bom sentir no rosto as cócegas provocadas por aquele sorriso, ou experimentar a leveza de ser arrebatados pelas doces memórias de outrora.

Por isso, quando queria um carinho na alma, fantasiava.

Repetia acordado o mesmo sonho, de que a qualquer momento seria reencontrado, surpreendido. Saía todos os dias acreditando que seria naquele dia. Que a qualquer momento poderia acontecer.

Vivia um gerúndio absoluto do movimento de tocar e se desprender do solo.

Ele só queria que fosse verdade.

Que a verdade fosse real.

E que o real, fosse… que aquele empurrão não tivesse sido o da separação.

“O boneco de neve” nos relacionamentos |Frozen e Psicologia

sad-snowman-by-mgshelton-800x586Sabia que um “boneco de neve” pode salvar um relacionamento? Depois de ler este texto, certamente você entenderá a importância, e por quê não, necessidade de um boneco de neve entre duas pessoas!  Principalmente se você se sente isolado… Refém de suas feridas não curadas… Distante dos outros e de si mesmo….

Se você tem um “amigo de um primo nessa situação” talvez seja a hora de você, quer dizer, dele conhecer a história da coadjuvante Anna, irmã da protagonista Elsa. Sim estou falando da animação Frozen (2013) e o quanto ela pode ensinar sobre a psicologia dos relacionamentos. Não! Esse assunto não é para crianças, embora venha de uma a “moral desta história”….

A primeira vez que eu vi o filme Frozen foi a convite de uma criança de 5 anos. O filme já havia começado e aquele pequeno já tinha as falas decoradas para me atualizar. Como bom jornalista, fui investigar o que naquela história causava tanta excitação nas crianças [e prejuízos para os pais]. Nem meu sobrinho escapou da versão congelada do “Mito do Rei Midas”.

Não vou, aqui, fazer apologia à Disney, do contrário, até me assusta a letra de “Livre Estou” (Let It Go), cantada repetidamente por milhares de crianças.

O filme foca totalmente nas desventuras de Elsa, que “amaldiçoada” congela tudo o que toca. Então, se isola da família e amigos em um quarto de onde vê o mundo através de uma janela. Sua angustia é tamanha que ela não sai e nem deixa a irmã entrar. Elsa decide não ter contato com seus problemas e também não deixa que os outros se aproximem dos conteúdos dela.

Recentemente algo naquele filme me chamou atenção. Mais especificamente a cena em que Anna, a caçula, canta “Você Quer Brincar na Neve?” (Do you want to built a snowman?).

Veja a Cena:

É nesse momento que a pureza da infância quebra as barreiras emocionais e rompe com as defesas da irmã mais velha. Movida pelo amor e saudade da irmã, Anna bate na porta do quarto de Elsa e a convida para “Construir um Boneco de Neve”. Repare que ela não estendeu um ombro para irmã chorar, nem lhe ofereceu um remédio ou livro de autoajuda. Para uma criança a maior cura é brincar! Brincando se esquece dos problemas, interage com o mundo da fantasia. Brincar é o melhor convite de uma criança, é onde ela pode se expressar livremente. Uma abordagem simples e altamente estratégica. [Os adultos, nesse caso, quase sempre optam em focar no problema e no sofrimento[. Ignorada, Anna começa a relembrar a irmã de coisas boas, e finaliza da melhor maneira possível: se colocando à disposição de Elsa, respeitando o tempo dela e mais, o jeito dela…. Nesse momento, “já não precisa – necessariamente – fazer um boneco de neve”.

Diante da negativa, em vez de frustrar-se a caçula contraria “seus próprios direitos” e insiste mais uma vez em convencer a irmã a abrir a porta. Novamente recebe em troca o silêncio. No entanto, aquela porta na cara não foi suficiente para suplantar o amor de Anna e, pela terceira vez ela insiste com Elsa. Muda os argumentos e num ápice de maturidade começa a compartilhar do próprio sofrimento causado pela ausência da irmã. Dizendo como a ausência dela é sentida. Em sua última frase, Anna – mais uma vez – propõe “construir um boneco de neve?”

Para as “Elsa’s”, as vezes tudo o que se precisa é de um convite para “brincar”. O boneco de neve representava para aquele relacionamento um objeto de vínculo de boas lembranças da infância. Para construir um boneco de neve é preciso ir para fora, expor-se, entrar em contato com a neve, com o mundo e com os próprios conteúdos [leia-se emoções, memórias, etc]. É preciso abrir-se para o outro. Contrariar os próprios sentimentos e sofrimentos e permitir a si mesmo a uma nova experiência.

Para as “Anna’s”, é necessário tirar do amor a esperança e a perseverança. É aceitar as portas na cara e engolir o silêncio. É ser ignorado e insistir, não por orgulho, mas por convicção. É nunca deixar de convidar para brincar e juntos “construir um boneco de neve”.

Confira a tradução de “Você quer brincar na neve?” (Do you want to build a snowman?)

Anna (5 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Venha, vamos brincar
Eu nunca mais te vi
Saia do quarto,
É como se você estivesse ido embora.
Nós costumávamos ser melhores amigas
E agora não somos mais
Eu gostaria que me dissesse por quê?
Você quer construir um boneco de neve?
Não precisa ser “um boneco de neve”
Ok, tchau
Anna (9 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Ou andar de bicicleta pelos corredores?
Eu acho que está mais do que na hora de você ter companhia
Eu já comecei a falar com os quadros na parede
Fica muito solitário
Todas estas salas vazias
Apenas observando as horas passando
Anna (13 anos) – Elsa? Por favor, eu sei que você está ai
As pessoas estão perguntando onde você está
Eles dizem “tenha coragem”
E eu estou tentando
Estou bem aqui para você
Apenas me deixe entrar
Nós só temos uma a outra
É só você e eu
O que vamos fazer?
Você quer construir um boneco de neve?

Quanto vale?

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Quanto você está disposto a pagar pela felicidade que nunca acaba? Ou pelo amor sem dor? E pela paz que jamais sai do sério? Quanto você investiria em um relacionamento que desconhecesse a o medo, a insegurança e as diferenças? Quanto você pagaria para sentir, em todos os beijos, a mesma sensação do primeiro? Ou para manter a boca seca, o frio na barriga e a pupila dilatada em cada encontro com a pessoa amada? Quanto?  Quanto você pagaria para voltar a sonhar? Quanto vale o prazer de se entregar novamente?

Gostamos tanto de mensurar as coisas, as pessoas. Fazemos isso constantemente nos relacionamentos, por que não pesar os sentimentos?

Precificar é uma maneira que percebemos a intensidade do desejo. Valorizamos o que queremos e ainda mais o que não podemos ter. Assim, justificamos a nós mesmos de uma maneira ou de outra.

Somos desafiados a pagar o preço e com isso demonstramos o tamanho da nossa disposição em conquistar o objeto de desejo.

Assim, com disposição suficiente, nos arriscamos no mercado afetivo, pagando o que for necessário, sem pechinchar. E assim, abastecemos nossas satisfações e realizações.

No entanto, chega um momento onde a questão não está mais na disposição para se mover em direção ao que se deseja. Até porque continua se desejando. Mas a realidade volta-se para o quanto sobrou de recursos para pagar.

Então um dia você se pega com muita vontade, muita vontade mesmo, mas sem saldo emocional para financiar os sentimentos.

Esvaído pela impotência, você está sem crédito. Está quebrado. Com o coração quebrado.

 

FKX e a defragilidade das relações

“I’m like a rubberband until you pull too hard

I may snap and I move fast”

(SIA)

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Acredite! Einstein e Newton sabem muito mais de relacionamento afetivo do que você imagina! Eles não foram grandes autores de auto-ajuda, tampouco renomados terapeutas amorosos. Os expoentes da física esconderam em fórmulas matemáticas a explicação dos maiores conflitos emocionais entre duas pessoas. E você achando que só iria usá-las para passar no vestibular?

Vamos começar com F=K.X, também conhecida como fórmula de Hooke, muito utilizada para calcular a deformação que uma determinada força irá causar no objeto.

É sabido que todo material sólido quando submetido a esforços externos tem a capacidade de deformar-se. E, de acordo com a própria física, ao retirar a carga, o objeto teria a capacidade de retornar à sua forma e dimensão original. Este é o princípio da elasticidade.

Mas é claro que há casos onde essa carga é tão grande que a deformação torna-se irreversível. O próprio elástico, por exemplo, que “nasceu” para ser esticado pode perder sua principal propriedade com o tempo¹, dependendo do uso² e do desgaste³. Pode também se romper se alongado com uma força além da sua capacidade de resistência. Também pode sofrer danos irreparáveis na sua estrutura por conta da conservação e da temperatura.

Bom, agora você pergunta: “O que essa aula de física tem a ver com relacionamentos amorosos?” E agora eu te respondo: tente se colocar no lugar do objeto em questão!

Duas pessoas são como o K.X, ao se juntarem em um relacionamento, são expostas a uma série de Forças (aqui, você substitui o F pelos problemas do relacionamento, todos eles…..).

Fato é que as pessoas, e o próprio relacionamento, reagem de forma diferente a cada carga, uns deformam mais, outros menos, muitos conseguem retornar à forma do “primeiro encontro”, outros simplesmente ficam como aquelas borrachinhas frouxas que não conseguem mais segurar o dinheiro, sabe?

A grande verdade é que uma vez no formato “KX”, espere pelas piores “F’s”. A maldita física ainda consegue antecipar todas as possíveis conseqüências dessa equação amorosa:

A primeira possibilidade é a “Resiliência” – quando você ou o relacionamento consegue, simplesmente, absorver toda essa carga e retornar à posição inicial. Assim como os bambus que envergam com os ventos para todos os lados, mas ao primeiro sinal de serenidade, lá está ele ereto rumo ao sol.

Se este não é o caso do seu relacionamento, talvez já esteja na fase de “Plasticidade” – de acordo com a física é quando a pressão da forma é tão grande que gera deformações permanentes no objeto. Geralmente isso ocorre em relacionamento mais longo, onde o fator tempo já venceu o primeiro estágio.

Se o seu relacionamento não esta nas fases acima, então sinto lhe dizer, pois ele já veio a óbito! De acordo com a física, a “Ductibilidade” é a capacidade que um material tem em deforma-se até sua ruptura. Esse objeto que se rompe é chamado de defrágil.

E o que tudo isso significa? Muito simples! Que se você estivesse prestado mais atenção nas aulas de física e estudado os conceitos, provavelmente estaria hoje em um relacionamento saudável e feliz.

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ou então que simplesmente fracassou internamente e que busca explicações externas para aliviar a dor. Ou os dois.

Renato Lima, 00:28