A beleza no deserto

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Imagine um deserto. Não! Não feche os olhos. Você precisa estar com eles abertos para ler este texto. É preciso estar com os olhos bem abertos para encarar a vida, olhar a realidade. Às vezes o que vemos não é bom como gostaríamos ou como imaginamos. Mas fechar os olhos não ajudará a saber onde se está pisando. E é importante saber onde se pisa.

Por isso, de olhos bem abertos imagine um deserto.

Consegue localizá-lo dentro de você?

Deserto é um encontro entre o tempo e o espaço. É um momento. É um período, também chamado de fase. É onde nada parece acontecer. É quando nunca parece acabar. É quando você se sente patinando sem sair do lugar. Deserto é o sentir-se só, perdido, abandonado. É quando você já está seco por dentro e por fora. Abatido, cansado, sem esperança.

Talvez por isso a imagem que temos de deserto é algo sem vida, sem cor, sem alegria, sem movimento.

Mas deixa eu lhe dizer algo!

Existe uma beleza no deserto.

Estar no deserto lhe permite experiências únicas e inesquecíveis.

Eu estive lá. Percorri suas trilhas e curvas. Enfrentei suas tempestades. Aguentei sua temperatura. Então o resisti. O atravessei. E voltei pra contar.

A primeira beleza do deserto é sua imensidão. Um olhar atento ao horizonte sem fronteiras atesta como somos pequenos e na mesma dimensão torna-se o tamanho das dores, sofrimentos, angústias… Você percebe que existe um universo do lado de fora que resiste imune ao que corrói por dentro. E que você resistiu muito mais às ameaças externas do que as internas…..

A segunda beleza do deserto é o silencio. Não há vozes, não há ruídos… Você se torna refém da própria voz e começa a escutar-se de uma maneira mágica. Ouve coisas que jamais disse a si mesmo. É um momento único onde você se aconselha e se perdoa.

A terceira beleza do deserto é seu movimento. Quando nada parece acontecer, é possível sentir na pele o vento que move delicadamente os grãos de areia, transportando verdadeiras dunas. É acompanhar o sol dançar no céu entre sombras e luzes. É sentir o pico do calor e arrepiar com o frio ao entardecer. E ver que a paisagem mudou e acreditar que sim, as coisas mudam, ainda que lentamente existe um movimento interno também.

Então, poder caminhar sem medo e chegar ao fim.

E, neste fim, encontrar-se com uma nova versão de você mesmo.

Uma versão mais forte, mais experiente, mais agradecida, mais serena, mais integrada.

O deserto não passa. Ele continua lá. Ele é um encontro do tempo com o espaço. Quem passa é você. Que o atravessa e deixa suas pegadas. Um rastro que irá se apagar com o tempo e talvez o mesmo tempo o faça esquecer que esteve lá e por isso, não se lembrará quando voltar, se voltar.

Existe uma beleza no deserto.

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Sobre Renato Lima

Jornalista, psicólogo, mochileiro e observador de comportamento.

Publicado em 01/03/2018, em Sem categoria. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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