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Cap 1 – De Volta ao Primeiro Olhar…

Well I’m not sure of my priorities   

When I’ve lost sight of whoever I’m meant to be

like holy water washing over me

You make it real for me

Ele acordou sentindo algo diferente no ar. Uma sensação como a de quando se come brigadeiro com morangos. Seus lábios arriscavam um sorriso espontâneo enquanto seus olhos formavam ruguinhas de felicidade. Virou-se,  correu os olhos no calendário e descobriu o que a memória do seu corpo já lembrava desde a primeira hora do dia……

how-to-pick-the-right-bar-for-a-business-meetingEra uma noite fria de julho, não tão fria como aquelas de bater o queixo, mas tinha uma brisa que arrepiava os pelos. Mas não era uma noite qualquer. Era o 23. O dia que mudaria a história daquele jovem pra sempre [mas ele ainda não sabia disso].

Ele chegou despretensiosamente. E assim ficaria se não fosse o barulho do seu coração a denunciá-lo em público de que algo estava acontecendo na sua alma. Ao subir a escala, como um imã, seus olhos desviaram de todas as pessoas – e havia muitas naquela noite – sendo atraídos para um único olhar escondido na outra ponta da mesa. Sentia gotículas de um suor frio escorrendo por dentro de sua camisa jeans.  Nessa altura já não conseguia controlar o rubor no seu rosto. Ao menos isso poderia culpar o frio!

Sentia um constrangimento gostoso. Uma timidez vestida de autoconfiança, por isso, preferiu sentar longe daquele olhar que o desconcertava. Buscou a proteção de quem já conhecia e engatou uma conversa alheia para controlar seus batimentos. Enquanto seus lábios diziam coisas que ele mesmo não ouvia… sua atenção cruzava aquela mesa, pescando discretamente os movimentos que ali aconteciam.

stenaxorimenos-sto-barFoi então que os céus se abriram… e um golpe do destino trouxe daquela distância para bem perto. Puxou uma cadeira e sentou-se quase do lado daquele jovem, entrando naquela conversa que nessa altura já não fazia mais sentido…. todos os sentidos de ambos estavam reféns daquele momento, daquele encontro, daquela presença…

Foi então que rendeu-se. Baixou suas defesas e entregou-se a algo que ele ainda não sabia o que era, mas que era bom. Não. Era mais que bom. Era novo, era inédito, era mágico, era espontâneo…. natural. Era um encontro de almas. Era 23 de julho e isso bastava…..

[ to be continued…]

Não somos o que sentimos, mas podemos ser

tumblr_nnkppqDODQ1sszcpso7_1280Ultimamente eu ouvi várias vezes a expressão “o que somos, a não ser aquilo que sentimos”… Soava nos meus ouvidos com tanta convicção que por pouco quase me deixei levar por essa “filosofia de vida”.

Certamente ela explica muita coisa. Mas diante de tanta dor, sofrimento e tristeza eu pude olhar para mim mesmo e, simplesmente, eu não poderia aceitar SER tudo aquilo que estava sentindo!

Então me lembrei de um versículo da bíblia, em Jeremias 17:9 “Quem pode entender o coração humano? Não há nada que engane tanto quanto ele”. Em outra tradução esse mesmo versículo fala que “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa. Quem o conhecerá?”.

Se há mais de dois mil anos os homens questionavam o coração como uma “terra estranha”, como posso, então, entregar tudo o que sou ao que sinto? É fato que em um único dia podemos sentir tantas coisas diferentes, contraditórias e confusas. Emoções que afetam o humor, o comportamento, as tomadas de decisão.

Todo mundo dentro de si carrega, necessariamente, as quatro emoções inatas do ser humano: felicidade, tristeza, raiva e medo… Somos a soma, a mistura, a fusão e sinergia desses quatro pilares…. Ora um fica mais evidente, ora outro… e isso é o que nos move para a auto-preservação e multiplicação, mas não o que nos define!

Realmente definir o nosso ser apenas pelos sentimentos é limitar toda a complexidade que é o ser humano. CE2vlKfWgAAcD3-Não consigo acreditar que somos o que sentimos. Mas acredito que podemos ser, sim, o que sentimos. Da mesma forma que podemos ser o que pensamos. Na verdade podemos ser o que quisermos ser. Nos tornamos aquilo em que acreditamos e de certa forma isso passa a fazer sentido pra quem acredita.

Somos um “tornar-se”… a vida é um gerúndio de crescimento, aprendizagem, mudança…. “Nada é mais simples, não há outra forma, nada de perde, tudo se transforma” (J.D.)

Há momentos em que é necessário contrariar os sentimentos para seguir em frente. Eles vão continuar lá, gritando….. Mas é preciso se apoiar na fé naquilo em que se acredita.

Afinal, somos as nossas próprias escolhas e todas as consequencias advindas… Mas não só isso, somos também as escolhas que ainda iremos fazer!

“É hora de se guardar, um segredo no coração

Meu doce amor

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Meu doce amor,

Ao repetir essa frase “meu doce amor”, me dou conta de que é impossível pronunciá-la sem sorrir ….. a mistura de “doce” com “amor” resulta em um tom de voz sereno e gentil. Assim como você é. Assim como tudo em você é. Isso me faz querer compor uma música de uma frase só….

Me realizo neste pronome onde você, primeira pessoa tão singular, se faz minha com apenas três letras. Depois traduzo todos os seus predicados em uma única palavra. Palavra sinestésica que aguça os sentidos, dilata as pupilas e faz querer lamber os dedos de prazer. Então vem você, o sujeito da oração. Oração que eu faço todos os dias para que este amor nunca falte e jamais falhe.

Ainda sinto nos meus lábios, o gosto do seu amor.

[…]

Minha única possibilidade

olhos_007Sem dúvidas foi o brilho. Da luz que emanava daqueles grandes olhos que atravessavam a longa mesa e corria em minha direção me tomando de claridade. Uma luz que dissipava toda a escuridão de dentro de mim e me mostrava coisas lindas que eu mesmo desconhecia.

Aqueles olhos me olharam como nenhum outro jamais me olhou. E como jamais serei olhado novamente. Pois daquele olhar só existe um, o seu.

Fiz então dos seus olhos a minha lanterna. Para me guiar por lugares onde jamais tinha visitado. Descia cada vez mais fundo por sentimentos que me traziam segurança, proteção e conforto.

No caminho fui envolvido por uma doçura de arrebatar o coração para outro plano. Rompendo a gravidade até descolar meus pés do chão. Nos seus braços, senti o aconchego de colo e o fôlego de vida.

Foi a partir daquele olhar em que eu passei a descobrir a verdadeira vida. Aquela que nasce no e do encontro. Um encontro de almas. Um encontro marcado.

Em você eu descobri a mim mesmo. Com você eu aprendi a conjugar a primeira pessoa do plural. Mas foi por você que eu fiz do voltar minha maneira de não ir.

Tudo para que aquele olhar continuasse a beijar meus olhos, enchendo de borboletas a minha barriga e de sinos os meus ouvidos.

Daquele olhar ficaram três coisas: a surpresa do entregar-se, a sinergia do encontro, e a minha única possibilidade de poder me ver refletido nos seus olhos novamente.

P.S: desafio aceito! Desta mesma fonte também jorra outras inspirações além de dor e sofrimento.

Desculpe o transtorno. Estamos em obras!

188824_EM-OBRASSe existe uma coisa que me irrita é ter que mudar o caminho que eu faço para chegar em casa. Todos os dias eu sigo o mesmo percurso. Eu sei onde estou e sei onde quero chegar. Pra quê, meu Deus, vou ficar pensando em alterar a rota? Eu sei que aquele caminho é o mais eficiente. Como eu sei disso? Oras, porque todos os dias eu faço o mesmo trajeto. Não vou investir minha criatividade pensando em variações de ruas para simplesmente ir para  casa, correndo o risco de me perder ou gastar mais tempo e gasolina!

Mas eis que resolvem fazer uma obra de infraestrutura exatamente na rua onde eu deveria passar todos os dias. Máquinas na pista, barulho, sujeira, poeira…. Um caos, bem ali, no meu caminho. Um transtorno apocalíptico de uma obra infindável sustentada por uma plaquinha presa a um cavalete justificando aquele inferno: “Desculpe o Transtorno. Estamos em obras”.

A justificativa é sempre a mesma, “para melhor atendê-los”. Agora me diga, cadê a plaquinha que mostra uma rota alternativa? Não tem! Sabe por quê? Porque é sempre assim, quando se inicia uma obra, tudo fica bagunçado! É necessário se adaptar ao novo contexto momentâneo e, sem garantias de que depois que terminar tudo voltará a ser como antes.

Ou seja, lá vou eu ter que me adaptar àquela obra no meio do caminho. Para quem não gosta de procurar novas rotas é um parto se ver obrigado a pegar “atalhos”. Até eu escolher e me acostumar com outro trajeto para chegar em casa, certamente irei parar em muitas ruas “sem saída”, quando não me perder e ficar dando voltas em círculos.

Enfim…. Assim como tudo na vida, as vezes nós mesmos somos surpreendidos por uma obra interior. Sentimos a 16-500x500britadeira nos sentimentos e o caos tomando conta das emoções. Para nós mesmos e para as pessoas que estão no entorno só nos resta dizer “Desculpe o Transtorno: Estou em obras”, acreditando – bem no fundo – que um dia essa obra será concluída e o resultado dela será “Para melhor atendê-los”. (a mim mesmo e aos outros). Não conseguimos escapar da bagunça interior e dos impactos dessa obra!

Enquanto isso, cabe a nós  criarmos nossos caminhos alternativos. Algumas obras são necessárias, outras inevitáveis. O transtorno é certo, a mudança nem tanto. Mas sobre o que fazer diante dessas obras que surgem no caminho das nossas vidas? Drummond arrisca uma sugestão: “Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas retinas tão fatigadas.  Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”

Time do Fix!

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Fantasia

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Ele calcava os pés nos chão para passar despercebido entre os demais. Mas sabia que sua mente e seu coração flutuavam. Era como se sua cabeça fosse um balão de gás, suspenso no mundo da fantasia.

E quando ninguém estava olhando, ele discretamente deslocava o calcanhar e sonhava acordado. Vislumbrava momentos que não aconteceram. Pessoas que não estavam lá.

Mas eram reais.

Tão reais que suas fantasias lhe roubavam sorrisos e provocaram suspiros compulsivamente. Convencido de que seria surpreendido pelas próprias fantasias alimentava o quanto podia o desejo de ser reencontrado.

….

Então, voltava a tocar o solo. A realidade não tinha todas as cores, nem lhe fazia borbulhar a barriga. Não havia ninguém lá. Nem esperança, nem surpresa.

Ninguém o estaria esperando na porta, nem iria cruzar-lhe o caminho subitamente. Mas ele ousava contrariar a realidade e, com todas as forças, suspendia-se do chão novamente. O alívio momentâneo daquela verdade que ainda não tinha acontecido era suficiente para lhe acalmar o coração.

Naquele lugar, as cores, o brilho e a música davam conta dos desejos mais belos e puros. Lá, não havia assento para culpas e nem culpados. Mesmo assim, a gravidade insistia em lhe puxa para baixo.

Outra vez olhava e não via ninguém. Encontrava o vazio e isso era desesperador…..

….

Lembrou-se de quando estava à beira do abismo. Aquele empurrão dado, era o da liberdade, mas não havia reverberado o efeito esperado. Era para ser um impulso da salvação! Aquele que faz brotar asas, que ensina a voar, que desperta o instinto de sobrevivência quando se vê à beira da morte.

Então ele ficou esperando….

Esperando que do vácuo ressurgisse rompendo a gravidade, envolvido no vigor da liberdade, na própria força interior.  Baixou os olhos para seus pés, via as pontas dos dedos tocando a extremidade do penhasco. Olhava para baixo, esperando algum movimento, algum vento balançar seus cabelos.

E, nada.

O nada era o solo que agarrava seus pés drenando suas fantasias tão pueris. Por isso ele preferia o ar. No ar é onde as coisas fazem mais sentido, não precisa de raiz quem pode voar.

Era tão bom sentir no rosto as cócegas provocadas por aquele sorriso, ou experimentar a leveza de ser arrebatados pelas doces memórias de outrora.

Por isso, quando queria um carinho na alma, fantasiava.

Repetia acordado o mesmo sonho, de que a qualquer momento seria reencontrado, surpreendido. Saía todos os dias acreditando que seria naquele dia. Que a qualquer momento poderia acontecer.

Vivia um gerúndio absoluto do movimento de tocar e se desprender do solo.

Ele só queria que fosse verdade.

Que a verdade fosse real.

E que o real, fosse… que aquele empurrão não tivesse sido o da separação.

“O boneco de neve” nos relacionamentos |Frozen e Psicologia

sad-snowman-by-mgshelton-800x586Sabia que um “boneco de neve” pode salvar um relacionamento? Depois de ler este texto, certamente você entenderá a importância, e por quê não, necessidade de um boneco de neve entre duas pessoas!  Principalmente se você se sente isolado… Refém de suas feridas não curadas… Distante dos outros e de si mesmo….

Se você tem um “amigo de um primo nessa situação” talvez seja a hora de você, quer dizer, dele conhecer a história da coadjuvante Anna, irmã da protagonista Elsa. Sim estou falando da animação Frozen (2013) e o quanto ela pode ensinar sobre a psicologia dos relacionamentos. Não! Esse assunto não é para crianças, embora venha de uma a “moral desta história”….

A primeira vez que eu vi o filme Frozen foi a convite de uma criança de 5 anos. O filme já havia começado e aquele pequeno já tinha as falas decoradas para me atualizar. Como bom jornalista, fui investigar o que naquela história causava tanta excitação nas crianças [e prejuízos para os pais]. Nem meu sobrinho escapou da versão congelada do “Mito do Rei Midas”.

Não vou, aqui, fazer apologia à Disney, do contrário, até me assusta a letra de “Livre Estou” (Let It Go), cantada repetidamente por milhares de crianças.

O filme foca totalmente nas desventuras de Elsa, que “amaldiçoada” congela tudo o que toca. Então, se isola da família e amigos em um quarto de onde vê o mundo através de uma janela. Sua angustia é tamanha que ela não sai e nem deixa a irmã entrar. Elsa decide não ter contato com seus problemas e também não deixa que os outros se aproximem dos conteúdos dela.

Recentemente algo naquele filme me chamou atenção. Mais especificamente a cena em que Anna, a caçula, canta “Você Quer Brincar na Neve?” (Do you want to built a snowman?).

Veja a Cena:

É nesse momento que a pureza da infância quebra as barreiras emocionais e rompe com as defesas da irmã mais velha. Movida pelo amor e saudade da irmã, Anna bate na porta do quarto de Elsa e a convida para “Construir um Boneco de Neve”. Repare que ela não estendeu um ombro para irmã chorar, nem lhe ofereceu um remédio ou livro de autoajuda. Para uma criança a maior cura é brincar! Brincando se esquece dos problemas, interage com o mundo da fantasia. Brincar é o melhor convite de uma criança, é onde ela pode se expressar livremente. Uma abordagem simples e altamente estratégica. [Os adultos, nesse caso, quase sempre optam em focar no problema e no sofrimento[. Ignorada, Anna começa a relembrar a irmã de coisas boas, e finaliza da melhor maneira possível: se colocando à disposição de Elsa, respeitando o tempo dela e mais, o jeito dela…. Nesse momento, “já não precisa – necessariamente – fazer um boneco de neve”.

Diante da negativa, em vez de frustrar-se a caçula contraria “seus próprios direitos” e insiste mais uma vez em convencer a irmã a abrir a porta. Novamente recebe em troca o silêncio. No entanto, aquela porta na cara não foi suficiente para suplantar o amor de Anna e, pela terceira vez ela insiste com Elsa. Muda os argumentos e num ápice de maturidade começa a compartilhar do próprio sofrimento causado pela ausência da irmã. Dizendo como a ausência dela é sentida. Em sua última frase, Anna – mais uma vez – propõe “construir um boneco de neve?”

Para as “Elsa’s”, as vezes tudo o que se precisa é de um convite para “brincar”. O boneco de neve representava para aquele relacionamento um objeto de vínculo de boas lembranças da infância. Para construir um boneco de neve é preciso ir para fora, expor-se, entrar em contato com a neve, com o mundo e com os próprios conteúdos [leia-se emoções, memórias, etc]. É preciso abrir-se para o outro. Contrariar os próprios sentimentos e sofrimentos e permitir a si mesmo a uma nova experiência.

Para as “Anna’s”, é necessário tirar do amor a esperança e a perseverança. É aceitar as portas na cara e engolir o silêncio. É ser ignorado e insistir, não por orgulho, mas por convicção. É nunca deixar de convidar para brincar e juntos “construir um boneco de neve”.

Confira a tradução de “Você quer brincar na neve?” (Do you want to build a snowman?)

Anna (5 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Venha, vamos brincar
Eu nunca mais te vi
Saia do quarto,
É como se você estivesse ido embora.
Nós costumávamos ser melhores amigas
E agora não somos mais
Eu gostaria que me dissesse por quê?
Você quer construir um boneco de neve?
Não precisa ser “um boneco de neve”
Ok, tchau
Anna (9 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Ou andar de bicicleta pelos corredores?
Eu acho que está mais do que na hora de você ter companhia
Eu já comecei a falar com os quadros na parede
Fica muito solitário
Todas estas salas vazias
Apenas observando as horas passando
Anna (13 anos) – Elsa? Por favor, eu sei que você está ai
As pessoas estão perguntando onde você está
Eles dizem “tenha coragem”
E eu estou tentando
Estou bem aqui para você
Apenas me deixe entrar
Nós só temos uma a outra
É só você e eu
O que vamos fazer?
Você quer construir um boneco de neve?

Quanto vale?

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Quanto você está disposto a pagar pela felicidade que nunca acaba? Ou pelo amor sem dor? E pela paz que jamais sai do sério? Quanto você investiria em um relacionamento que desconhecesse a o medo, a insegurança e as diferenças? Quanto você pagaria para sentir, em todos os beijos, a mesma sensação do primeiro? Ou para manter a boca seca, o frio na barriga e a pupila dilatada em cada encontro com a pessoa amada? Quanto?  Quanto você pagaria para voltar a sonhar? Quanto vale o prazer de se entregar novamente?

Gostamos tanto de mensurar as coisas, as pessoas. Fazemos isso constantemente nos relacionamentos, por que não pesar os sentimentos?

Precificar é uma maneira que percebemos a intensidade do desejo. Valorizamos o que queremos e ainda mais o que não podemos ter. Assim, justificamos a nós mesmos de uma maneira ou de outra.

Somos desafiados a pagar o preço e com isso demonstramos o tamanho da nossa disposição em conquistar o objeto de desejo.

Assim, com disposição suficiente, nos arriscamos no mercado afetivo, pagando o que for necessário, sem pechinchar. E assim, abastecemos nossas satisfações e realizações.

No entanto, chega um momento onde a questão não está mais na disposição para se mover em direção ao que se deseja. Até porque continua se desejando. Mas a realidade volta-se para o quanto sobrou de recursos para pagar.

Então um dia você se pega com muita vontade, muita vontade mesmo, mas sem saldo emocional para financiar os sentimentos.

Esvaído pela impotência, você está sem crédito. Está quebrado. Com o coração quebrado.

 

FKX e a defragilidade das relações

“I’m like a rubberband until you pull too hard

I may snap and I move fast”

(SIA)

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Acredite! Einstein e Newton sabem muito mais de relacionamento afetivo do que você imagina! Eles não foram grandes autores de auto-ajuda, tampouco renomados terapeutas amorosos. Os expoentes da física esconderam em fórmulas matemáticas a explicação dos maiores conflitos emocionais entre duas pessoas. E você achando que só iria usá-las para passar no vestibular?

Vamos começar com F=K.X, também conhecida como fórmula de Hooke, muito utilizada para calcular a deformação que uma determinada força irá causar no objeto.

É sabido que todo material sólido quando submetido a esforços externos tem a capacidade de deformar-se. E, de acordo com a própria física, ao retirar a carga, o objeto teria a capacidade de retornar à sua forma e dimensão original. Este é o princípio da elasticidade.

Mas é claro que há casos onde essa carga é tão grande que a deformação torna-se irreversível. O próprio elástico, por exemplo, que “nasceu” para ser esticado pode perder sua principal propriedade com o tempo¹, dependendo do uso² e do desgaste³. Pode também se romper se alongado com uma força além da sua capacidade de resistência. Também pode sofrer danos irreparáveis na sua estrutura por conta da conservação e da temperatura.

Bom, agora você pergunta: “O que essa aula de física tem a ver com relacionamentos amorosos?” E agora eu te respondo: tente se colocar no lugar do objeto em questão!

Duas pessoas são como o K.X, ao se juntarem em um relacionamento, são expostas a uma série de Forças (aqui, você substitui o F pelos problemas do relacionamento, todos eles…..).

Fato é que as pessoas, e o próprio relacionamento, reagem de forma diferente a cada carga, uns deformam mais, outros menos, muitos conseguem retornar à forma do “primeiro encontro”, outros simplesmente ficam como aquelas borrachinhas frouxas que não conseguem mais segurar o dinheiro, sabe?

A grande verdade é que uma vez no formato “KX”, espere pelas piores “F’s”. A maldita física ainda consegue antecipar todas as possíveis conseqüências dessa equação amorosa:

A primeira possibilidade é a “Resiliência” – quando você ou o relacionamento consegue, simplesmente, absorver toda essa carga e retornar à posição inicial. Assim como os bambus que envergam com os ventos para todos os lados, mas ao primeiro sinal de serenidade, lá está ele ereto rumo ao sol.

Se este não é o caso do seu relacionamento, talvez já esteja na fase de “Plasticidade” – de acordo com a física é quando a pressão da forma é tão grande que gera deformações permanentes no objeto. Geralmente isso ocorre em relacionamento mais longo, onde o fator tempo já venceu o primeiro estágio.

Se o seu relacionamento não esta nas fases acima, então sinto lhe dizer, pois ele já veio a óbito! De acordo com a física, a “Ductibilidade” é a capacidade que um material tem em deforma-se até sua ruptura. Esse objeto que se rompe é chamado de defrágil.

E o que tudo isso significa? Muito simples! Que se você estivesse prestado mais atenção nas aulas de física e estudado os conceitos, provavelmente estaria hoje em um relacionamento saudável e feliz.

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ou então que simplesmente fracassou internamente e que busca explicações externas para aliviar a dor. Ou os dois.

Renato Lima, 00:28

Sobre Bauman e o medo da estante: a angústia de um leitor.

Meu autor preferido é Zygmunt Bauman. A forma peculiar em que ele consegue ver a liquidez das pessoas, das relações, dos sentimentos e das instituições me confronta e me fascina. Com requinte e ousadia ele toma esses valores construídos historicamente em solidez e os reclassifica com as propriedades do líquido, que não tem forma por si mesmo, mas que se adapta  ao recipiente em questão. É orgânico, instável, frágil
.

E é justamente o Amor Líquido, o livro do Bauman que eu mais gosto. Ele me é tão precioso que faço dele uma leitura homeopática. O desejo de devorá-lo instantaneamente é superado pelo respeito e o temor de cada palavra. Então eu aprecio cada parágrafo demoradamente. Depois de ler, abaixo o livro no meu peito e fico meditando naquela verdade até o tempo se atrasar.

E assim eu vou prolongando a minha leitura, a fim de evitar o último parágrafo. Quanto mais longe eu estiver do ponto final, mais dias de Bauman eu terei. Então eu sigo me sabotando. Fazendo de tudo para não terminar essa leitura. Para não chegar o dia em que não haverá mais páginas a serem lidas.

Concluir essa leitura é uma angustia que precisa ser evitada. Enquanto houver páginas não lidas haverá esperança, motivação, vínculo, futuro… E é esta presença presente que difere este livro dos demais que depois de lidos são abandonados na estante escorando-se uns nos outros. Mas Bauman não. Amo Líquido está sempre comigo, aonde eu vou o carrego junto.

Mas vai chegar a hora. A hora na qual terei que enfrentar suas últimas páginas. Ultrapassar o ponto final e ter que concluir o que foi começado.  E, então, ter que colocá-lo na estante e, finalmente me distanciar dele. É fato que este livro não será minha última leitura. Mas nenhum outro será igual. É certo que cada palavra de Amor Líquido ficará gravada no meu espírito e na minha carne, correrá pelas minhas veias e a noite ilustrará os meus sonhos.

Mas que nada disso afasta de mim o medo. O medo de tirá-lo da minha mochila pela última vez. O medo de não tê-lo mais junto a mim, em minhas mãos. E então ter que aceitar que o gerúndio se transformará em pretérito.