Arquivo da categoria: Cult & Filmes

Opiniões, Dicas e Críticas sobre filmes e manifestações culturais

Waiting for forever

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“A verdade não é nada. O que você acredita ser verdade é tudo. E eu acreditava que ficaria com você para sempre. Para sempre. Eu levei tanto tempo para escrever para você, porque percebi que fui um tolo. Passei a minha vida toda me enganando. Toda carta que escrevia era uma carta de amor. Como poderia ser outra coisa? Agora posso ver que todas, menos esta, eram ruins. Cartas de amor ruins imploram pelo amor. Cartas de amor boas não pedem nada. Esta, tenho o prazer de anunciar, é a minha primeira carta de amor boa para você. Porque não há nada mais para você fazer. Você já fez de tudo. Já tenho memórias suas que durarão para sempre. Por favor, não se preocupe comigo. Eu sou “perfeitinho”, de verdade. Tenho tudo. Se eu tivesse um desejo, seria de que a sua vida desse a você o gosto da alegria que você me deu. Que você sinta o que é amar. Do seu eterno amigo”

Trecho da obra “Waiting for Forever”, filme americano dirigido por James Keach, estrelando Rachel Bilson e Tom Sturridge. Foi filmado em Salt Lake City e Ogden, Utah.

Data de lançamento10 de fevereiro de 2010 (EUA)

DireçãoJames Keach

Duração1h 35m

Música composta porNick Urata

RoteiroSteve Adams

“O boneco de neve” nos relacionamentos |Frozen e Psicologia

sad-snowman-by-mgshelton-800x586Sabia que um “boneco de neve” pode salvar um relacionamento? Depois de ler este texto, certamente você entenderá a importância, e por quê não, necessidade de um boneco de neve entre duas pessoas!  Principalmente se você se sente isolado… Refém de suas feridas não curadas… Distante dos outros e de si mesmo….

Se você tem um “amigo de um primo nessa situação” talvez seja a hora de você, quer dizer, dele conhecer a história da coadjuvante Anna, irmã da protagonista Elsa. Sim estou falando da animação Frozen (2013) e o quanto ela pode ensinar sobre a psicologia dos relacionamentos. Não! Esse assunto não é para crianças, embora venha de uma a “moral desta história”….

A primeira vez que eu vi o filme Frozen foi a convite de uma criança de 5 anos. O filme já havia começado e aquele pequeno já tinha as falas decoradas para me atualizar. Como bom jornalista, fui investigar o que naquela história causava tanta excitação nas crianças [e prejuízos para os pais]. Nem meu sobrinho escapou da versão congelada do “Mito do Rei Midas”.

Não vou, aqui, fazer apologia à Disney, do contrário, até me assusta a letra de “Livre Estou” (Let It Go), cantada repetidamente por milhares de crianças.

O filme foca totalmente nas desventuras de Elsa, que “amaldiçoada” congela tudo o que toca. Então, se isola da família e amigos em um quarto de onde vê o mundo através de uma janela. Sua angustia é tamanha que ela não sai e nem deixa a irmã entrar. Elsa decide não ter contato com seus problemas e também não deixa que os outros se aproximem dos conteúdos dela.

Recentemente algo naquele filme me chamou atenção. Mais especificamente a cena em que Anna, a caçula, canta “Você Quer Brincar na Neve?” (Do you want to built a snowman?).

Veja a Cena:

É nesse momento que a pureza da infância quebra as barreiras emocionais e rompe com as defesas da irmã mais velha. Movida pelo amor e saudade da irmã, Anna bate na porta do quarto de Elsa e a convida para “Construir um Boneco de Neve”. Repare que ela não estendeu um ombro para irmã chorar, nem lhe ofereceu um remédio ou livro de autoajuda. Para uma criança a maior cura é brincar! Brincando se esquece dos problemas, interage com o mundo da fantasia. Brincar é o melhor convite de uma criança, é onde ela pode se expressar livremente. Uma abordagem simples e altamente estratégica. [Os adultos, nesse caso, quase sempre optam em focar no problema e no sofrimento[. Ignorada, Anna começa a relembrar a irmã de coisas boas, e finaliza da melhor maneira possível: se colocando à disposição de Elsa, respeitando o tempo dela e mais, o jeito dela…. Nesse momento, “já não precisa – necessariamente – fazer um boneco de neve”.

Diante da negativa, em vez de frustrar-se a caçula contraria “seus próprios direitos” e insiste mais uma vez em convencer a irmã a abrir a porta. Novamente recebe em troca o silêncio. No entanto, aquela porta na cara não foi suficiente para suplantar o amor de Anna e, pela terceira vez ela insiste com Elsa. Muda os argumentos e num ápice de maturidade começa a compartilhar do próprio sofrimento causado pela ausência da irmã. Dizendo como a ausência dela é sentida. Em sua última frase, Anna – mais uma vez – propõe “construir um boneco de neve?”

Para as “Elsa’s”, as vezes tudo o que se precisa é de um convite para “brincar”. O boneco de neve representava para aquele relacionamento um objeto de vínculo de boas lembranças da infância. Para construir um boneco de neve é preciso ir para fora, expor-se, entrar em contato com a neve, com o mundo e com os próprios conteúdos [leia-se emoções, memórias, etc]. É preciso abrir-se para o outro. Contrariar os próprios sentimentos e sofrimentos e permitir a si mesmo a uma nova experiência.

Para as “Anna’s”, é necessário tirar do amor a esperança e a perseverança. É aceitar as portas na cara e engolir o silêncio. É ser ignorado e insistir, não por orgulho, mas por convicção. É nunca deixar de convidar para brincar e juntos “construir um boneco de neve”.

Confira a tradução de “Você quer brincar na neve?” (Do you want to build a snowman?)

Anna (5 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Venha, vamos brincar
Eu nunca mais te vi
Saia do quarto,
É como se você estivesse ido embora.
Nós costumávamos ser melhores amigas
E agora não somos mais
Eu gostaria que me dissesse por quê?
Você quer construir um boneco de neve?
Não precisa ser “um boneco de neve”
Ok, tchau
Anna (9 anos) – Você quer construir um Boneco de Neve?
Ou andar de bicicleta pelos corredores?
Eu acho que está mais do que na hora de você ter companhia
Eu já comecei a falar com os quadros na parede
Fica muito solitário
Todas estas salas vazias
Apenas observando as horas passando
Anna (13 anos) – Elsa? Por favor, eu sei que você está ai
As pessoas estão perguntando onde você está
Eles dizem “tenha coragem”
E eu estou tentando
Estou bem aqui para você
Apenas me deixe entrar
Nós só temos uma a outra
É só você e eu
O que vamos fazer?
Você quer construir um boneco de neve?

GIKOVATE: O AMOR QUE SE VAI

Amar-é-Puuung-1O psicoterapeuta e escritor Flávio Gikovate define o amor como: “um sentimento por alguém muito específico, que provoca a sensação de paz, de aconchego e harmonia”. Psicologicamente, o amor reflete a primeira experiência do ser humano: o prazer absoluto de estar no útero materno. Por isso, Gikovate diz que “o Amor é um remédio para o desamparo do nascimento”. Para ser amor é preciso que o sentimento seja, necessariamente, interpessoal (verbo transitivo) e, também, seja um prazer negativo, no sentido que ele vem substituir a perda do primeiro prazer (quando saímos do útero perfeito e temos contato com o mundo imperfeito).

Assim, Gikovate – contrariando o senso comum romântico – afirma que “não se faz amor, se sente amor”. Completamente diferente do sexo, que segundo o autor, o fenômeno da sexualidade funciona de forma pessoal (prazer autoerótico), é uma excitação e não depende de desconforto.

Fato é que amor adulto, tem muitas características infantis. O outro entra no lugar da mãe, substituindo o objeto de prazer que irá receber todo o investimento de amor.

No século V a.C., Platão afirmava que o Amor deriva de Admiração. A escolha desse objeto que vai substituir a mãe será feita, então, por admiração. Essa é a explicação para a formação dos casais. A questão é que o critério de admiração pode se modificar com o passar do tempo.

Essa, a admiração, é uma das variáveis que pode levar o fenômeno amoroso ao colapso da relação. Quanto mais baixaamar-é-ilustrações-puuung-34 for a autoestima, maior a procura pela admiração ao perfil oposto, justificando a máxima “os opostos se atraem”. O tempo e a aproximação podem provocar a perda, ou mesmo o crescimento, da admiração. É um processo constante de reavaliação da admiração ao outro. Isso depende das escolhas e das mudanças que ocorrem individualmente e, que afetam diretamente o relacionamento. Em outras palavras, quando se perde admiração, perde-se o amor. Logo, o maior problema é a perda da admiração.

O sentimento amoroso vai se desencantar pelas mesmas razões que o fez encantar. O fim do amor não é, imediatamente,  o fim do relacionamento. Muitas pessoas ficam juntas mesmo depois que a vida emocional está empobrecida. Viver junto, não significa viver bem. Há os que continuam com um objetivo de forçar a mudança do outro, em vez de usar essa força para mudar a si mesmo. “Por exemplo: em vez de eu forçar o outro a deixar de ser egoísta, eu devo trabalhar em mim para deixar de ser generoso. Assim, ou a pessoa sai da relação em busca de alguém generoso, ou ela aprender a ser generosa. Toda a energia deveria ser gasta em si mesmo e não em reformar o outro. É um esforço inútil”.

Para Gikovate a parte mais generosa da relação é quem ativa a ruptura. Isso porque a parte mais egoísta, ainda que em um possível sofrimento, não suporta ceder. Assim, espera-se uma hora oportuna para a separação.

amar-é-ilustrações-puuung-35As pessoas esperam separar sem ter que passar pelo buraco da solidão. A maior parte das pessoas lida muito mal com a solidão e, principalmente, com a dramática sensação de dor no momento da separação. Uma dor confundida, pois essa primeira não é a dor da solidão, é a dor aguda da ruptura. Da transição.

Se o relacionamento está desgastado, o outro não está preenchendo bem as expectativas, de maneira que já há a sensação de incompletude presente. Quando há uma ruptura é preciso fazer uma autocrítica e entender onde e como foram as falhas e as mudanças. Aprender a lidar melhor consigo mesmo.

O individualismo é uma coisa ótima e positiva, pois está ajudando as pessoas a dar menos ênfase ao amor infantil, de dependência. O individualismo atrai relações entre pessoas mais parecidas criando uma nova máxima “os semelhantes se aproximam”. O amor ganha conotação mais adulta, com aconchego intelectual, o que dá um viés mais sofisticado para a relação. O “Mais Amor” (termo cunhado por Gikovate como uma evolução das relações afetivas) é o que se aproxima da amizade, ou seja, a relação entre duas pessoas é baseada nas afinidades, respeitando a individualidade de cada um, tomando as duas partes como iguais e equilibradas em tudo.

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Fonte: Texto baseado na palestra O AMOR QUE SE VAI, de Flávio Gikovate, realizada pelo CPFL Cultura, 2009. (contém alterações deste autor/blog).

Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=JtDmoS7VAvY

Ilustrações: Puuung

Sobre Bauman e o medo da estante: a angústia de um leitor.

Meu autor preferido é Zygmunt Bauman. A forma peculiar em que ele consegue ver a liquidez das pessoas, das relações, dos sentimentos e das instituições me confronta e me fascina. Com requinte e ousadia ele toma esses valores construídos historicamente em solidez e os reclassifica com as propriedades do líquido, que não tem forma por si mesmo, mas que se adapta  ao recipiente em questão. É orgânico, instável, frágil
.

E é justamente o Amor Líquido, o livro do Bauman que eu mais gosto. Ele me é tão precioso que faço dele uma leitura homeopática. O desejo de devorá-lo instantaneamente é superado pelo respeito e o temor de cada palavra. Então eu aprecio cada parágrafo demoradamente. Depois de ler, abaixo o livro no meu peito e fico meditando naquela verdade até o tempo se atrasar.

E assim eu vou prolongando a minha leitura, a fim de evitar o último parágrafo. Quanto mais longe eu estiver do ponto final, mais dias de Bauman eu terei. Então eu sigo me sabotando. Fazendo de tudo para não terminar essa leitura. Para não chegar o dia em que não haverá mais páginas a serem lidas.

Concluir essa leitura é uma angustia que precisa ser evitada. Enquanto houver páginas não lidas haverá esperança, motivação, vínculo, futuro… E é esta presença presente que difere este livro dos demais que depois de lidos são abandonados na estante escorando-se uns nos outros. Mas Bauman não. Amo Líquido está sempre comigo, aonde eu vou o carrego junto.

Mas vai chegar a hora. A hora na qual terei que enfrentar suas últimas páginas. Ultrapassar o ponto final e ter que concluir o que foi começado.  E, então, ter que colocá-lo na estante e, finalmente me distanciar dele. É fato que este livro não será minha última leitura. Mas nenhum outro será igual. É certo que cada palavra de Amor Líquido ficará gravada no meu espírito e na minha carne, correrá pelas minhas veias e a noite ilustrará os meus sonhos.

Mas que nada disso afasta de mim o medo. O medo de tirá-lo da minha mochila pela última vez. O medo de não tê-lo mais junto a mim, em minhas mãos. E então ter que aceitar que o gerúndio se transformará em pretérito.

ALERTA | Banalização da Psicopatia nos Seriados

hannibal-série-trailer-2-600x350Dizem que “a arte imita a vida”. Sempre que eu ouço essa frase fico pensando quem Tarsila imitou quando pintou o Abapuru ?! E se isso realmente for verdade, esse post é muito mais sério que um alerta.

Recentemente estou assustado com alguns seriados que estrearam em 2013. Seriado pra mim é como novela para minha tia-avó: quase uma religião. A diferença é que posso “seguir” vários ao mesmo tempo o.O

Mas percebi uma avalanche de seriados que em comum abordam psicopatias, psicopatologias, psicoses e outros tantos transtornos mentais que assustam até mesmo um estudante de psicologia acostumado com roteiros complexos.

Estou falando de THE FOLLOWING (Fox), BATES MOTEL (A&E) e HANNIBAL (AXN). Além do mocinho e bandido e da investigação policial, essas séries colocam foco na “saúde mental” dos personagens – ou na falta dela – e expõem sem filtros uma realidade presente até então em manicômios e diagnósticos sigilosos.

poe_followingThe Following, já com estréia no Brasil pela Warner, narra a uma seita criada em torno da obra de Edgard Allan Poe (muito suspeito!), congrega dezenas de psicopatas atraídos pela “Beleza da Morte”. Nisso, matar e morrer (veja que não é um “ou”) é cumprir um bem maior. Curioso e que o roteiro mostra uma realidade muito concreta, onde os desajustados se reúnem por suas semelhanças e se encaixam em um contexto onde são aceitos. Os episódios são recheados de sangue, frieza e perspicácia.

Em seguida foi lançada Bates Motel, um prelúdio da série Hitchcock. O roteiro foca no desenvolvimento da psicose do protagonista Norman Bates e detalha o início das alucinações, esquizofrenia, assassinatos que vão transformar um jovens de 17 anos em um psicótico (baseado no livro que originou o filme Psicose). A série ainda evidencia um relacionamento edípico entre mãe e filho. Além de outras neuroses.

Por último, temos a recente adaptação da “quadrilogia” Hannibal do cinema para a TV. Crítica à parte, vez que o Lecter de Anthony Hopkins é insuperável. A espinha dorsal do seriado mantém o canibalismo do psiquiatra, destacando sua forma de entrar na mente das pessoas, cheio de más intenções é claro. Em contra partida, todos os crimes tem um fundo psicótico, com requintes de psicopatologia pesada!

Diante dessas três séries, Dexter que volta no segundo semestre para a última temporada, perde a hegemonia do contexto Serial xlargeKillers. Embora também seja uma psicopata, Morgan ainda segue uma série de códigos que o convertem em um “herói” com ressalvas.

O alerta fica mesmo nos possíveis efeitos (nocivos) da exposição desmedida, excessiva e sem censuras de todos os vieses da psicopatia, livremente para todas as pessoas, de diferentes idades e, principalmente, diferentes estruturas de personalidades. Não podemos nivelar a absorção desse conteúdo da mesma forma entre todos os telespectadores. Algumas correntes psicológicas consideram o Meio (ambiente) como grande influenciador de comportamento. Se somarmos isso a outras correntes que acreditam na “pré-disposição” para desenvolvimento de psicopatias e esquizofrenia. Então temos uma equação perigosa para a saúde mental.

Esse discurso pode ficar ainda mais palpável quando lembramos de alguns casos como Massacre de Columbine, Virginia Tech e os fãs de Duke Nuken e Batman que metralharam dezenas de pessoas, confundindo realidade com a ficção..

Voltando à frase inicial desse texto. Caso a vida também esteja imitando a arte, teremos um ciclo vicioso e preocupante. Não quero exorcizar os seriados, mas registrar um olhar crítico e uma visão do todo.

Confira os traillers

THE FOLLOWING

BATES MOTEL

HANNIBAL

O Surpreendente previsível Del Toro

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Falar de MAMA como o último trabalho de Guillermo Del Toro, já seria começar o texto com uma inverdade para uns dos mais ativos e procurados multitask de Hollywood, isso mesmo, entre Direção, Roteiro e Produção, Del Toro atua simultaneamente em outros três filmes a serem lançados em 2014 – Pinocchio, a Bela e a Fera, e Jardim Secreto.

Fato é que MAMA é o mais recente sucesso de Del Toro que apresenta uma fórmula já conhecida ao menos pra quem acompanha a filmografia do cineasta mexicano. Desde O Labirinto do Fauno, O Orfanato, Não tenha Medo do Escuro e agora em MAMA,  o terror-suspense é montado com crianças, seres inanimados, espíritos e uma paleta de cores dark.

Ao mesmo tempo em que o filme não é inédito do ponto de vista dos elementos já trabalhado em outros roteiros, ele se diferencia de todos os outros. Prende a atenção do espectador e envolve-os até o fim. O final é surpreendente e coerente, claro que ninguém desejaria aquele fim, mas teria ficado muito “humano” se fosse diferente e iria avacalhar todo o enredo do filme (penso seu!).

E o mais engraçado é como ele manuseia essa equação previsível de forma surpreendente. Não estou falando do Del Toro de HellBoy, Blade e Hobbit. Quero analisar a linha mais artesanal como os primeiros filmes citados acima, mais especificamente de MAMA.

Quando se pesquisa um pouco o background de Del Toro, logo dá pra entender que não se trata de coincidências, sua referência

DESTAQUE PARA A MAQUIAGEM DAS DUAS ATRIZES MIRINS

DESTAQUE PARA A MAQUIAGEM DAS DUAS ATRIZES MIRINS

sempre foi o terror espiritual, se assim podemos dizer, estudou muito maquiagem e caracterização, o que explora muito bem nos filmes, principalmente se for com Doug Jones (veja Aqui o Post sobre ele). Na minha opinião, se a MAMA fosse feita pelo Doug e não 100% computação gráfica teria fica muito melhor!

De todos, esse foi o que eu senti mais medos e sustos e arrepios, e olha que Não Tenha Medo do Escuro é bem malvadinho. Fico pensando como ele consegue transformar a imagem pueril e angelical das crianças nesses personagens densos e tensos!? Eu não deixaria meus filhos trabalharem com Del Toro, ele é muito perturbado!

Mas analisando o filme com a ótima da psicologia e do cristianismo, ele é bem real e muito possível. Passando pelo caso do Menino Lobo, psicose e esquizofrenia a manifestação demoníaca (possessão e encosto), enfim…. Um repertório bastante palpável, principalmente considerando o suicídio!

É difícil ver Filmes de Terror levando Oscar, já temos Jessica Chastain (Annabel) indicada como protagonista. Agora vamos torcer pelo roteiro.

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O Sentido da Vida

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EXISTIMOS,

AMAMOS

CRIAMOS,

E COMO PRÊMIO DE CONSOLAÇÃO,  MORREMOS!

Sabe quando do nada você pensa e as pessoas ouvem seu pensamento? Não se trata de nenhuma habilidade telepática. Foi você mesmo que pensou com a garganta. Então eu soltei um “Qual o sentido da vida”. Não era bem uma pergunta, nem uma retórica, no máximo uma associação livre, talvez…..

Mas essa  frase, esse pensamento, esse grito (isso!), tinha algo de familiar… Seria um livro lido? Pensei. Talvez um filme antigo? …. Foi hora de jogar pra redação, que em coro respondeu “pergunte ao Google”. E não é que ele me levou a um projeto que está fazendo essa mesma pergunta, agora enquanto eu escrevo? Eu nunca tinha ouvido falar sobre esse projeto, mas em comum, questionamos a mesma incógnita filosófica!

 “O sentido da vida é procurar o sentido da vida. A pergunta abre muito campo. Já a resposta fecha”

Numa época em que nos encontramos perdidos.

Numa época em que o sistema está em colapso.

Qual o sentido da nossa existência? O que fica? O que nos Move?

Porque escreve um escritor? Porque compõem um músico?

Well, O Sentido da Vida está sendo gravado nesse momento em sete cantos do mundo. É uma idealização portuguesa que será co-produzido pela brasileira O2. É uma proposta muito interessante cujo o financiamento será coletivo. Isso mesmo, qualquer um pode ajudar a produzir o filme com doações e participações. O roteiro narra sete histórias. Sete arquétipos que formam uma constelação importante que irá espelhar a relação tão humana e universal entre a morte, a criação e o poder.  As filmagens serão no Brasil, na Islândia, na Inglaterra, em Portugal e no Japão.

De acordo com o produtor Nuno Artur Silva, o filme nasce de uma angustia pós-moderna “Todas as grandes narrativas que davam sentido à nossa vida estão fragmentadas. Mesmo se juntássemos os cacos, não seria mais possível reconstruí-las, da mesma forma. Essa implosão deu um novo sentido a vida”.

Mas uma frase, perdida em meio toda a minha pesquisa, acalmou minha angústia.

Sobre o Sentido da Vida?  “O Caminho é tão importante quanto o destino”.

Clique aqui para saber mais sobre o projeto e sobre o filme

Oz dentro de nóz!

Teaser de Wicked the Musical

Teaser de Wicked the Musical

A vida é como um quebra-cabeça. Ao longo da nossa jornada vamos coletando peças soltas e que muitas vezes não as valorizamos por – naquele momento – simplesmente não fazer sentido, ou não nos chamar atenção. Eu sou a favor de guardar tudo…. momentos, pessoas, experiências, situações, emoções, lembranças…. coloco no quartinho da bagunça e sei que a qualquer momento posso entrar e pescar alguma coisa para, então, fazer sentido…. ressignificar!

Assim aconteceu recentemente…… o que parecia um filmezinho bobo, lá para distrair a mente… virou uma reflexão sobre  O Maravilhoso Mundo que somos nós mesmos….

Eu não li nenhum dos 14 livros de L. Frank Baum. Mas desde 1900 o enredo de O Maravilhoso Mágico de OZ inspira muita gente e não só crianças, que digam os outros autores que publicaram mais 26 obras baseadas em OZ. E quanto a mim não foi diferente, no quesito inspiração…

Mas o filme lançado pela Disney, 73 anos depois depois da primeira versão,  tirou o foco do protagonismo clássico da Dorothy Ventania (Dorothy Gale, no original) e seus amigos…. E isso me chamou atenção… Como podemos ter várias histórias dentro de uma mesma história…? Como é possível, ao mudar o olhar sobre uma mesma situação, enxergar formas diferentes…? Esse mistério nos intriga uma vez que questiona nossas próprias verdades… O copo está meio cheio ou meio vazio, não é mesmo?

Mas naquela sala de cinema, passeando pela cidade de Esmeralda, matava a saudade de Glinda, ao mesmo tempo em que me perguntava por que mudaram o nome da bruxa do Oeste! Onde estava Elphaba? (falha imperdoável).

Então me remeti a uma história não contada sobre a Terra de Oz, Wicked – um livro escrito por Gregory Maguire (um daqueles 26) que narra o relacionamento entre a bruxa boa e a bruxa má… muito antes de Dorothy e do Mágico…

Eu conheci essa história na Broadway (NY/2007), produzida por Stephen Schwartz (Godspell, Pocahontas), o espetáculo estrelado por Idina Menzel e Kirtin Chenoweth rendeu nada menos de 35 prêmios, sendo 3 Tonys (o Oscar da Broadway) e está em cartaz até hoje e também rodando o mundo com outro Cast….

Mas voltando ao roteiro…. juntei todas essas peças, algumas de 2007, outras de 2013… e vi que dava para construir um sentido…o de que Existe uma OZ dentro de nós… uma terra onde habita a bondade e a maldade em  um intenso conflito…. Mas nessa terra também, tem balões coloridos, sonhos, desejos, alegria…. e me lembrei de uma música que marcou a minha vida nesse espetáculo: For Good, cantada no momento em que a bruxa má resolve acreditar na sua própria humanidade e se render a bondade que habita nela…. Talvez eu contando assim parece simples… Mas Elphaba era verde…. nasceu diferente e a diferença dela era explicita. Imagina quanto sofrimento internalizado por não ser como as outras pessoas, se sentir inferior…. Talvez a maldade de Elphaba seja apenas para se defender… E quanta coragem ela precisou para assumir suas falhas, mudar… se humilhar….?!

No fundo não estamos tão distantes da fábula. A verdade é que ninguém é 100% Glinda ou Elphaba…  Mas podemos dar sentido às coisas… podemos dar sentido a nós mesmos… Podemos construir nosso próprio caminho de tijolos dourados….

Peguei a tradução da letra que retrata um pouco disse que estou escrevendo:

(FOR GOOD)

Eu sou limitada:

Olhe para mim – Eu sou limitada

E olhe para você –

Você pode fazer tudo o que eu não pude fazer…

 

Eu ouvi dizer

Que as pessoas entram em nossa vida por uma razão

Trazendo algo que devemos aprender

E somos levados

Àqueles que nos ajudam mais a crescer

Se os permitimos

E os ajudarmos também.

Bem, eu não sei se eu acredito nisso,

Mas eu sei que eu sou quem eu sou hoje

Porque eu te conheci.

 

Quem pode dizer se eu mudei pra melhor?

Mas porque eu te conheci

Eu mudei.. para sempre.

 

Pode até ser que não nos encontremos novamente nessa vida,

Então deixe-me dizer antes de nos separarmos

Muito de mim é feito do que eu aprendi com você.

 

Você estará comigo Como uma marca no meu coração.

E agora não importa como nossas histórias terminem

Eu sei que você reescreveu a minha

Por ter sido minha amiga:

 

 Confira abaixo o video gravado do Espetáculo Wicked com Idina, foi a ultima apresentação da Kirstin (o choro foi real) Cantando For Good:

Encontrei um video da Idina fazendo uma apresentação na Casa Branca, com um mash up da trilha sonora de Wicked. Procurem no Youtube a Musica Defying Gravity, é bem legal!

Indomável Sonhadora ( o ser e o pertencer)

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 “O universo inteiro depende de que todas as peças se encaixem da forma certa. Se uma peça cai, mesmo que seja a menor peça, todo o universo fracassa” #Hushpuppy

E assim o Oscar de 2013 foi salvo. Digo isso porque eu assisti já 70% dos filmes indicados à principal estatueta. E mesmo reconhecendo outros talentos que me seguraram em frente à tela como Django Livre, Lincoln, Aventuras de Pi e o Lado Bom da vida. A Indomável Sonhadora me arrebatou, conquistando minha unanimidade.

E assim eu fui salvo. Com uma história de resiliência, de coragem, de sonho e de convicção. Hollywood contrariou o Imperialismo Americano, expondo a miséria (real) de muitos americanos. O cenário de doença, pobreza, analfabetismo, tão comuns na filmografia brasileira, protagoniza uma história de superação, amor e possibilidades.

Tá certo que a tradução do nome do filme é bem distante do título original, porém não da essência do roteiro. Em Beasts of the Southern Wild (2012) – Indomável Sonhadora, no Brasil – a pequena Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) é uma menina de apenas 6 anos de idade que vive em uma comunidade miserável isolada às margens de um rio na Louisiana (EUA). Na “ilha” chamada “banheira” ela constrói seu mundo imaginário para fugir da dura realidade de ter sido abandonada pela mãe e ser criada pelo pai não como uma filha (mulher), mas como um “amigo” e também como um adulto com requintes de independência (já que mora sozinha e o pai em outra casa).

Não há como não ficar impactado com o texto, cuidadosamente pensado e escrito, que ganha alma na voz da personagem, transmitindo toda a doçura e bravura harmonicamente ajustada.

Hushpuppy é forjada a não chorar, não desistir e não sofrer. Para que ela possa “sonhar” como fazem as demais crianças precisa não se deixar “domar” pelas circunstâncias ao seu redor. Então lança mão da representação como escape, a final, ela ainda é uma criança.

A mãe que fugiu é representada pelo vermelho da camiseta 23 de Jordin. Dessa forma ela fica mais perto da mãe. Para espantar os medos desenha com carvão sua própria história.

“Em um milhão de anos, quando as crianças forem para a escola, elas vão saber um dia existiu uma Hushpuppy, e ela morava com seu pai na banheira” #Hushpuppy

O filme também faz sérias críticas ao próprio EUA, mas também a cultura imperialista, questionando os valores de liberdade, autonomia, respeito, pertencer e ser….

Em trechos como:

“A banheira tem mais feriados que todo o resto do mundo”

 “Eles acham que nós vamos afundar aqui. Mas nós não vamos a lugar nenhum”

 “Eu vejo que sou uma pequena peça em um grande, grande, universo e isso é o que faz sentido”

Tudo isso sem deixar o humanismo que transborda pelas personagens. A ligação da protagonista com a realidade concreta é feita poeticamente ao “ouvir a batida dos corações dos pequenos animais”, Se eles estão vivos, logo ela também está. Toda a fragilidade da pequena se contrapõem à bravura em trechos como:

“As vezes nós quebramos algumas coisas de tal forma que é impossível consertar da forma que era antes”

“Animais fortes sabem quando seus corações estão fracos”

Dessa forma o filme propõe que é preciso sonhar e que muitas vezes para sonhar é preciso ser indomável, acreditar nas próprias convicções e isso só é possível quando se entende o Ser e o Pertencer

hi-res-7_wide-6da2d7c767020aa59c3ab4f556b9326647680db0-s6-c10SOBRE O FILME:

  •  Mais da metade do elenco é da mesma região do estado de Louisiana (EUA) em que o filme se passa, incluindo a protagonista Quvenzhané Wallis e mais cinco outros atores com falas.
  •  Beasts of the Southern Wild é uma adaptação da peça “Juicy And Delicious” da autoria de Lucy Alibar. Ela ajudou o diretor Benh Zeitlin a escrever o roteiro para o filme.
  • Indomável Sonhadora recebeu quatro indicações ao Oscar 2013, melhor filme, diretor, atriz e roteiro.
  • Quvenzhané Wallis terminou de rodar seu segundo trabalho como atriz, o drama “Twelve Years a Slave”, que marcará a terceira parceria do diretor Steve McQueen
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly, Lowell Landes, Pamela Harper, Gina Montana, Amber Henry, Jonshel Alexander, Nicholas Clark.
Direção: Benh Zeitlin
Gênero: Drama
Duração: 93 min.
Distribuidora: Imagem Filmes
Orçamento: US$ 1,8 milhão

 

Kafka e o desafio de ser protagonista da própria vida

Tem gente que acha que o maior inimigo é o terrorismo, outros pensam que é o câncer, ou a fome… mas na verdade nosso maior

O livro custou R$ 10,40 na Leitura

O livro custou R$ 10,40 na Leitura

inimigo são as baratas! Elas conseguem resistir desde chineladas até bomba atômica, o que definitivamente ameaça nosso domínio sobre a Terra.

Talvez o poder delas é provocar em nós repugnância e nojo (além de um instinto assassino – ainda que muitos usam o grito como arma). Acho até que barata tinha que entrar no Houaiss como sinônimo desses predicados acima. Ou virar adjetivo… “sai daqui seu barata!”.

Todo mundo despreza as baratas. Quem tem uma barata de estimação? As baratas são rejeitadas e amaldiçoadas até…

Meu maior relacionamento com uma barata foi através da obra de Franz Kafka. Em “A Metamorfose”, Kafka apresenta seu “Surto Criativo” ao narrar uma “História Repulsiva” (palavras do autor), onde o personagem Gregor Samsa se transforma em uma barata – isso em sua própria casa.

Kafka escreveu A Metamorfose em 1912, quando tinha 29 anos. Filhos de Judeu, nasceu e cresceu em Praga (Republica Tcheca), queria ser filósofo, se matriculou em química e formou-se advogado. Eu estive em Praga, em 2012, visitei uma das casas onde ele morou e não encontrei vestígios de inspiração do autor. Mais tarde iria perceber que ele estava falando da própria essência do ser humano e de ser humano.

Em Praga - Cidade velha onde morou Franz Kafka

Em Praga – Cidade velha onde morou Franz Kafka

Mas nessa Fábula invertida, que já começa com o clímax, a própria metamorfose, apresenta um interessante ajustamento à nova realidade.

“Gregor não é o inseto, é a memória. A Barata é a barata e precisa ser aniquilada”

 

Em algum momento Gregor deixou de ser protagonista da própria vida, entrou em uma espiral do silêncio…. A metáfora da metamorfose reflete o processo de “deixar de existir”,  e isso pode ocorrer com qualquer pessoa… todos nós podemos nos tornar uma barata. Então ele vai perdendo os vínculos externos, o trabalho, depois vai se distanciando da família, e de si mesmo…. Deixa de falar, de ouvir e, finalmente, de ser percebido….. Um ostracismo lento e suicida onde a morte é a insignificância….

Mas quem optaria em passar por essa Metamorfose? Quem desejaria isso para si próprio? Esta é a abordagem brilhante de Kafka. A metamorfose ocorre lentamente, quase homeopática…. primeiro em pensamento, depois em ações e domina o comportamento…

Então não ser mais protagonista da própria vida ocorre quando se deixa de preservar a integridade do Self, do Ego, do Eu…. Quando se deixa de se enxergar, ou outros também deixarão…. Na metamorfose de Gregor, a maior dor do personagem não foi a morte, mas o “estado Barata”, quando sua existência já não faz mais diferença, nem pra si próprio, nem para os outros.

 

Seja o protagonista da sua própria vida!

Em Praga, quase tudo leva o nome do escritor. que tal uma pausa para pensar sobre o assunto?

Em Praga, quase tudo leva o nome do escritor. que tal uma pausa para pensar sobre o assunto?